Quando se fala em técnica de formação de bailarinos, o que parece vir à tona é, invariavelmente, a técnica do Ballet Clássico, que, com quatro séculos de existência, vem sendo responsável pela formação acadêmica de bailarinos em todo o mundo, inclusive no Oriente,em lugares onde ainda reinam danças milenares e culturas de grande exuberância, com o advento da globalização em âmbito cultural, um fenômeno mais recente.
Porém, desde o início do século XX, seguindo a explosão dos movimentos artísticos de vanguarda e sob a inspiração e pioneirismo absoluto da genial Isadora Duncan, a Dança Moderna foi-se consolidando não apenas como uma estética, mas sobretudo como sistema, métodos, técnicas corporais, que culminaram no surgimento de ESCOLAS. Basicamente têm-se duas grandes escolas de Dança Moderna (que compreendem suas respectivas ramificações): a Escola Americana e a Escola Européia.
A Escola Americana, que tem a seu favor a nacionalidade da precursora mais ilustre da Dança Moderna, Isadora Duncan (1877-1927), tem, em solo americano, o seu desenvolvimento marcado com a companhia e escola de dança Denishawn, de Ruth Saint Denis(1878-1968) e Ted Shawn(1891-1972), cuja abordagem consistia no resgate de danças de origem oriental, também conhecidas nos EUA como “Danças Exóticas”. Dançavam coreografias estilizadas oriundas das culturas japonesa, indiana e egípcia, em sua maioria. Também é de suma importância citar a influência do trabalho do pesquisador francês François Delsarte (1811-1871), cujos estudos no campo da expressão corporal, sobre a relação entre intensidade emocional e intensidade gestual, foram determinantes para um considerável número de artistas, além de qualquer um que aspirasse o contato com o público. Isadora Duncan, Ruth Saint Denis e Ted Shawn certamente estão entre os beneficiados pelas descobertas feitas por Delsarte e codificadas por um de seus discípulos, Alfred Giraudet, numa obra publicada em 1895.
Da companhia e escola Denishawn, surgiram nomes que vieram a se tornar pilares da futura Dança Moderna americana, como Martha Graham(1894-1991), Doris Humphrey(1895-1958) e Charles Weidman(1901-1975). Os dois últimos, Humphrey e Weidman, criaram sua própria escola juntos e influenciaram tecnicamente várias gerações. Seu legado ainda se faz presente nos trabalhos da companhia e escola de José Limón(1908-1972), onde o princípio de “queda e recuperação” foi a mola propulsora para a elaboração de uma técnica sólida e codificada. Já Martha Graham, bem, pode-se dizer que a Dança Moderna mundial existe antes e depois de sua influência, sem o menor exagero. Sua genialidade singular definiu um novo e peculiar modo de se dançar que influenciou toda a Dança a partir de então. Em uma trajetória artística de cerca de setenta e cinco anos, sua técnica foi se lapidando, sendo renovada e transformada, além de muito bem codificada, guardada e mantida por fiéis e dedicados discípulos, por várias e, provavelmente, inúmeras gerações. É um legado de valor inestimável para a formação de bailarinos, tão sólido, tão coerente e tão rico de possibilidades quanto os fundamentos do Ballet Clássico. A partir da influência de Martha Graham na Dança Moderna americana e mundial, outros trabalhos, que culminaram em escolas surgiram no país, tais como as técnicas de Lester Horton(1901-1953), de Katherine Dunham(1909), de Merce Cunningham(1919) e de Louis Falco(1942-1993).
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