Até 1927, ano de formação da primeira escola oficial de Dança acadêmica no país, a de Maria Olenewa, no Rio de Janeiro, quase não havia opções para a formação de bailarinos no Brasil, exceto por iniciativas isoladas, de poucos profissionais que trabalhavam por conta própria. Ainda assim, tais iniciativas vinham de profissionais oriundos do Ballet Clássico, sobretudo estrangeiros que aqui passaram a residir.
Uma das primeiras escolas a adotar uma tendência diferenciada, foi a que as bailarinas e professoras Kitty Bodenheim(1912-2003) e Chinita Ullman(1904-1977) abriram em São Paulo, em 1934. Kitty Bodenheim, nascida em Colônia, Alemanha, teve formação em Ballet Clássico, integrando o Ballet da Ópera de Colônia. Conheceu Chinita Ullman na escola de Mary Wigman em Dresden e veio com ela para o Brasil, em 1932.
Chinita (seu verdadeiro nome era Frieda) Ullman, nascida em Porto Alegre em 1904, educada artisticamente na Europa, foi aluna de Mary Wigman em sua escola, onde dançou por alguns anos, integrando o grupo de apresentações da prestigiosa mestra. Após seu desligamento do grupo, ainda percorreu a Europa numa série de bem sucedidos espetáculos, dançando suas próprias coreografias ao lado de um partner. Em 1931, se apresentou no Brasil como artista convidada, na temporada lírica do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Seu retorno definitivo ao país deu-se em 1932, quando fundou sua escola em parceria com Kitty Bodenheim, onde passou a ser responsável pelos primeiros ensinamentos da Dança Moderna no Brasil. Os frutos desta escola pioneira, dotados de um embasamento e uma versatilidade até então inédita, serviriam amplamente ao coreógrafo theco Vaslav Veltchek, para que, na temporada lírica de 1940 do Teatro Municipal de São Paulo, fosse composto um corpo de baile apto, em apenas três meses.
Chinita Ullman, intensamente ligada aos movimentos artísticos e culturais da capital paulista, reunia em sua residência artistas como Antonieta Rudge, Lasar Segall, Tarsila do Amaral, Mario de Andrade, entre outros. Dessas profícuas reuniões, foi concebida a SPAM, Sociedade Pró-Arte Moderna. Através de seu estreito contato com tais artistas da vanguarda modernista brasileira, Chinita teve acesso detalhado aos temas folclóricos, aos quais dedicou várias e inspiradas composições coreográficas. Muito se destacou a coreografia “Quadros Amazônicos”, que teve música especialmente composta para o seu trabalho por Francisco Mignone. Também ocupou o cargo de primeira professora de expressão corporal da Escola de Arte Dramática de São Paulo, a convite de seu diretor, Alfredo Mesquita. Sua carreira como bailarina foi encerrada em 1954,
“(…) quando, ao lado de Décio Stuart, apresenta memorável espetáculo de despedida.”,
segundo conta o autor Eduardo Sucena, em seu livro, “A Dança Teatral no Brasil”. Passou seus últimos anos de vida recolhida à sua chácara, onde veio a falecer em 1977.
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