Feliz 2015 a todos!
É com enorme prazer que inicio este auspicioso ano inaugurando a minha própria coluna neste incrível veículo. Espero que este portal possa, cada vez mais, aproximar a comunidade de Dança do Brasil e da América do Sul, sobretudo os que anseiam conhecer mais profundamente o fascinante universo da Dança Moderna.
Nesses anos de magistério, em especial ao longo da última década, em que me especializei no ensino e difusão das técnicas de Dança Moderna no Brasil, os questionamentos dos meus alunos sempre me motivaram e me conduziram no meu caminho de aprofundamento desse tema. Mas dentre tantos questionamentos, talvez o mais importante para mim e para o sentido do meu trabalho sempre tenha sido: “Por que aprender Dança Moderna, se estamos no século 21 e já temos a Dança Contemporânea?”
Para nortear essa questão, é necessário que se faça um breve retrospecto do que vem a ser a Dança Moderna em si. O que se conhece por Dança Moderna é um conjunto de técnicas desenvolvidas a partir do final do século 19 e, em especial, durante as primeiras décadas do século 20, num movimento concomitante ao que ocorria em várias searas da Arte e da sociedade como um todo. A Dança é uma das formas de Arte mais contundentes e expressivas da humanidade. A Dança existe antes mesmo da estruturação das linguagens e dos idiomas. É uma necessidade expressiva atávica oriunda dos mais longínquos ancestrais. É, portanto, um dos veículos que retratam com mais fidelidade a essência dos seres humanos. Como veremos adiante, muitas vezes revelam aspectos não verbalizados ou mesmo obscuros e/ou não conscientes dos mesmos… Nada mais natural que a grande inquietação que permeava aquele momento histórico, que foi classificado como “movimentos de vanguarda”, influenciasse de forma marcante e contribuísse para reconfigurar novos rumos ao fazer em Dança.
Outro aspecto bastante importante de se ressaltar é o determinismo histórico na acepção do termo. O que para nós, do século 21, é considerado como “Modernismo”, no momento histórico em que se sucedia, era chamado de “Contemporaneidade”, visto que a etimologia deste termo denota algo que está sendo realizado no momento presente. Ou seja, o que hoje é considerado “Dança Moderna”, já foi, no passado, a “Dança Contemporânea”.
E como surgiram as técnicas de Dança Moderna? Mais uma vez, gosto de recorrer à etimologia das palavras. Aliás, sempre foi a aula inicial dos meus cursos teóricos – a já conhecida pelos meus alunos como “Aula do dicionário”. Sobretudo nos dias atuais, em que testemunhamos muitas vezes o uso indevido e equivocado das palavras, o retorno aos fundamentos – seja em que aspecto for, linguístico ou corporal – faz-se absolutamente imprescindível e necessário para o encaminhamento lógico e congruente dos pensamentos e ações. Como um movimento expressivo se perpetua em técnica? Tudo começa com o sempre mencionado “conceito”. O que vem a ser um conceito? O termo “conceito” tem origem no Latim “conceptus” (do verbo concipere) que significa “coisa concebida” ou “formada na mente”. Portanto conceito é algo ainda não materializado. E como se dá o processo criativo? Geralmente ocorre através de experimentações, que são motivadas por uma ideia – ou um conceito – e respaldadas por estruturas pré-existentes, formais ou não. E isso é muito importante que se frise. Eu diria que é quase impossível experimentar sem qualquer base. Seja para reforçá-la ou contradizê-la, uma estrutura de base é o ponto de partida para qualquer experimentação, em qualquer campo.
Não percam a continuação deste artigo na próxima semana!