Em 1950, Verchinina foi convidada para assumir a direção do grupo de Dança Moderna da Universidade Nacional de Cuyo, em Mendoza, Argentina, onde teve a autonomia necessária para o desenvolvimento de seu trabalho não apenas como coreógrafa, mas principalmente como mestra, elaborando seu método próprio. Obteve grande êxito e projeção artística de bastante destaque, porém, em 1954, com o falecimento do reitor desta universidade e principal entusiasta de seu trabalho, o grupo se viu obrigado a encerrar suas atividades. Nina, entretanto, recebeu o convite do produtor Caribé da Rocha para retornar ao Brasil, montando o show “Fantasias e Fantasias” para o Copacabana Palace, no Rio de Janeiro. Na mesma época, Tatiana Leskova (1922), sua colega de elenco do Original Ballet Russe e que estava na direção artística do Teatro Municipal do Rio de Janeiro na ocasião, a convidou para remontar suas coreografias “Rhapsody in Blue” e “Narciso” para o corpo de baile, obras que foram concebidas durante a estadia na Argentina. Desta vez, a boa receptividade dos artistas envolvidos, ao lado de condições de trabalho consideravelmente superiores, parecem ter conseguido suplantar a má impressão anterior, de tal maneira que Nina Verchinina, após formar seu grupo por aqui em 1956 (quando também abriu a sua primeira escola, no bairro do Flamengo), o Ballet Nina Verchinina, e com ele excursionar por diversos estados brasileiros e países sul-americanos, definitivamente fixou residência no Rio de Janeiro, culminando com a abertura de sua escola no bairro de Copacabana, em 1959.
Nas quase quatro décadas seguintes, ela viria a trabalhar incansavelmente, em regime diário de dez, doze horas, sem pausas, inclusive em finais de semana e feriados, convertendo-se num exemplo vivo de devoção e amor ao seu trabalho. Segundo uma de suas mais antigas discípulas e sua assistente por quase quarenta anos, a professora Esther Piragibe, os finais de semana eram dedicados aos estudos e à elaboração de sua doutrina, cuidadosamente preservada e repassada aos discípulos e aos muitos alunos que estiveram em sua escola, mesmo que por pouco tempo.
Convidada por Dalal Achcar, montou as coreografias “Zuimaaluti”(1960) e “Metastasis” (1967), esta obra considerada por muitos como seu trabalho mais significativo. Para seu grupo de alunos, compôs um extenso repertório, do qual pode-se destacar as obras “Arabesque”, “Noturno”, “Suíte Barroca”, entre muitas outras.
De acordo com Esther Piragibe, o estilo coreográfico criado por Nina foi por ela mesma denominado Dança Moderna Expressionista, em que
“A Dança não é mais narrativa. Concentra em SÍMBOLO ou MITO aquilo que já está nascendo. É a perene busca da ESSÊNCIA das coisas.”
Mais do que estilo coreográfico, Nina Verchinina determinou elementos básicos de sua Dança Moderna Expressionista, elaborando uma metodologia particular, que abrange desde o eixo do corpo, ao movimento de braços, pernas e pés, passando pelo “núcleo gerador”, situado na região do plexo solar. O uso do solo e a atração telúrica por ele exercida, bem como as forças físicas de oposição, são aspectos marcantes e definidores de seu método, que, pode-se dizer, adquiriu a conotação de doutrina dado o fervor de sua dedicação, responsável por cativar e inspirar uma série de inúmeros e fiéis discípulos.
A inventividade de Verchinina também deu origem a um sistema de notação, chamado “Nina´s Notation”, com o intuito de registrar, tal qual uma partitura musical, as seqüências coreográficas, assim como fizera Rudolf Von Laban, com a “Labanotation”. Porém, diferentemente de tal sistema, que descrevia em três linhas (pautas) os movimentos da cabeça (e/ou braços), tronco/braços e pernas, Nina optou por figuras “inteiras”, como pequenos bonecos em movimento, o que facilita bastante a compreensão e a visualização. Foi desta maneira que deixou registradas muitas de suas obras, mostrando então uma preocupação pelo legado de seu trabalho.
Exemplos de seqüências de aulas registrados.
Nina Verchinina, durante toda a sua trajetória, viajou como convidada para vários países, onde ministrou cursos, deu palestras e participou de encontros de Dança Moderna. Lecionou em sua escola diariamente até o dia de sua morte, em 16 de dezembro de 1995, deixando sua marca inconfundível na história da Dança Moderna no Brasil.
“O veículo da dança é o movimento e vida é dança.”
(Nina Verchinina)